“E fazem todas as obras a fim de serem vistos pelos homens; pois trazem largos filactérios, e alargam as franjas das suas vestes, [...] E as saudações nas praças, e o serem chamados pelos homens; Rabi, Rabi. Vós, porém, não queirais ser chamados Rabi, porque um só é o vosso Mestre, a saber, o Messias, e todos vós sois irmãos. E a ninguém na terra chameis vosso pai, porque um só é o vosso Pai, o qual está nos céus. [...] O maior dentre vós será vosso servo. (Mt 23:5-11)
Jesus começa afirmando que que os mestres fariseus, para serem mais valorizados perante a população, utilizavam-se de alguns artifícios. Mas, o que realmente querem dizer? Explanarei o contexto geral, histórico e judaico para melhor compreensão da passagem acima.
•Quem é este Pai?
Voltando ao trecho de Mateus, entendemos agora o porquê de Jesus estar tão irado contra os fariseus: eles estavam utilizando símbolos e indumentárias que tinham o propósito de uma vivência e experimentação visível de uma devoção ao Criador para um fim totalmente egoísta: se auto-promoverem como santos e dignos de honras humanas pela expressão da religiosidade deles.
O contexto de todo o trecho de Mateus segue esta mesma lógica expressa aqui: exortação à conduta deturpada dos mestres em Israel na sua época. Essa conduta era caracterizada pela religiosidade fingida e deturpada de uma boa parcela dos mestres do farisaísmo, cujo propósito era o ego dos que a praticavam. Por isso Jesus alerta que eles não mereciam o título de mestre que lhes davam, focalizando que o verdadeiro Mestre seria o Messias esperado por eles. Mas, ele afirma logo após que não devíamos também chamar ninguém de pai pois havia somente um que era Pai, o que estava nos Céus (Deus). Jesus mudou o foco de sua exortação, dos mestres para os pais de família, aqui?
Na verdade não! Vemos que no judaísmo rabínico, evolução direta do judaísmo farisaico da época do Segundo Templo (I séc. d.C), há registros (no Talmude, por exemplo) o comum fato de grandes rabinos (como Gamaliel I e seu neto, Gamaliel II) serem referidos pelo nome אבא Abba ("pai", em aramaico) como título honorífico, de forma paralela com o uso de outro, רבנן Rabanan ("nosso mestre") e רבי Rabbi ("o mestre"). Coloco aqui o uso difundido deste título evidenciado por um trecho do Talmude:
הוה כי מצטריך עלמא למיטרא הוו משדרי רבנן ינוקי דבי רב לגביה ונקטי ליה בשיפולי גלימיה ואמרו ליה אבא אבא הב לן מיטרא אמר לפני הקב"ה רבש"ע עשה בשביל אלו שאין מכירין בין אבא דיהיב מיטרא לאבא דלא יהיב מיטרא
“Quando o mundo precisava de chuva, nossos mestres mandavam as crianças da escola de instrução religiosa (lit.: casa do mestre) para ele (Rabi Hanan) e ele. Elas se agarravam nas franjas de suas vestes e pediam: Aba, aba! Dai-nos chuva! Ele, então, clamava a Deus, dizendo: Senhor do Mundo! Faze algo para estes aqui que não sabem distinguir entre o Aba que dá a chuva e o Aba que não pode dá-la” (Talmude de Jerusalém, Tratado Taanit 23b)
Perceba que inclusive as crianças eram incentivadas a buscarem este grande mestre (Rabi Hanan) e a puxarem as suas franjas (tsitsiot). Por fim, ele faz a analogia entre o título que lhe chamam, Abba, com Deus, expressando a sua incapacidade ante ao Todo-Poder do Pai Celeste. Se não fosse um trecho da tradição rabínica posterior, e provavelmente intocada pela tradição evangélica, teríamos a impressão que algum cristão escrevera este trecho, não é verdade? Na realidade, os grandes teólogos e bispos cristãos da Antiguidade eram chamados de pais (ou padres, daí Patrística) por causa deste antigo costume judaico da época de Jesus.
Assim, o raciocínio do trecho de Mateus se completa: Jesus estava repreendendo os líderes de sua época que utilizavam o título de mestre (rabi ou rabanan) e de pai (abba) de forma abusiva e para sustentar uma falsa religiosidade, falsa devoção a Deus, já que a verdadeira não consistia em apreço humano (Mt 6:5) mas o buscar a Deus com um coração sincero e verdadeiro (Jo 4:23).
Trecho do Artigo de Erike Couto em seu Blog http://kakatuv.blogspot.com/
Esclarecedor artigo. Por isso é importante o conhecimento das raízes judaicas de nossa fé. Sem o contexto e conhecimento judaico podemos incorrer em vários erros teológicos.
ResponderExcluirA propósito segue um link que tem haver com assunto: http://www.genizahvirtual.com/2010/03/apostolo-estevam-hernandes-ordena-e.html
Olha que absurdo.
Continue compartilhando esses ensinamentos.
No amor do Messias, YESHUA (JESUS)
Luiz Augusto
Florianópolis/SC
Luiz,
ResponderExcluirAgradeço a visita, e obrigado pelo comentário, vou dar uma olhada no link e ver se acrescento alguma atualização no Post.
Continue nos prestigiando com sua visita.
Fique na Shalom dada por Yeshua.
O ARTIGO É MUITO ESCLARECEDÔR, AGRADEÇO SEU TRABALHO EM ESCLARECER MUITOS IRMÃOS E LIDERES QUE CONSULTAM ESTE BLOG
ResponderExcluirAnônimo,
ResponderExcluirNos que agradecemos as palavras de insentivo.
Shalom de Yeshua HaMashiach
ACHEI MUITO RASA A EXPLICAÇÃO.UM ASSUNTO DE TAMANHA AMBIGUIDADE DEVE SER ABORDADO EM SEUS PORMENORES TORNANDO-O MAIS ESCLARECIDO.
ResponderExcluirMuito bom.
ResponderExcluirTiago silva
shalom
Muito esclarecedor. Muito obrigado por difundir esse artigo
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