Shimon, o Justo, um dos últimos participantes da Grande Assembléia, afirmava: "Sobre três coisas se sustenta o mundo: o estudo da Torá, o serviço Divino (a oração) e guemilut chassadim, os atos de bondade". (Pirkei Avot - A Ética dos Pais).
O judaísmo ensina que o homem é o único ser que possui livre arbítrio e que pode, de forma consciente, beneficiar seus semelhante são praticar atos de bondade - guemilut chassadim, em hebraico. A Torá e nossos sábios ensinam que a bondade, a generosidade, a ética e a responsabilidade coletiva constituem parte integral dos mandamentos Divinos transmitidos para o povo judeu no deserto do Sinai. O mandamento de guemilut chassadim vai além da prática da tzedaká e inclui qualquer ato de bondade que é feito a outro. Mais especificamente, inclui emprestar dinheiro ou objetos, ser hospitaleiro, visitar e confortar os doentes, dar roupas a quem o necessita, auxiliar e alegrar noivas e noivos, enterrar os mortos, consolar os enlutados e promover a paz entre pessoas. Um simples sorriso, uma palavra bondosa e um ouvido atento em um momento de aflição são também atos de bondade. Cada vez que estendemos a mão a alguém que precisa de ajuda estamos cumprindo esse mandamento.
Desde seus primórdios, o judaísmo e a prática de guemilut chassadim são inseparáveis e entrelaçados, pois sem compaixão, moralidade e justiça social não há como manter uma sociedade ou sustentar a humanidade. Ensinam nossos sábios: "Se Israel considerasse as palavras da Torá que lhe foi dada, nenhuma nação ou reinado teria domínio sobre esse povo. E o que a Torá pede que se faça? Que se aceite sobre si o jugo do Reinado Celestial e que os membros do povo de Israel pratiquem, uns com outros, atos de bondade".
O Midrash vai mais longe e revela que a prática de atos de bondade é a pedra fundamental, o pilar sobre o qual se ergue todo o universo.
O judaísmo ensinou ao mundo que o homem foi criado à "imagem de D'us". Isto significa que o ser humano é um microcosmo dos atributos e qualidades Divinas. Portanto, assim como a bondade, a generosidade e a compaixão do Todo-Poderoso se estendem a todos, o homem deve buscar fazer o mesmo.
A Torá nos ordena: "Deves seguir D'us e ser fiel a Ele" (Deuteronômio 13:5). Ao comentar este verso, nossos sábios afirmam que o ser humano só pode apegar-se a D'us e se aproximar Dele se emular Suas qualidades. D'us é Misericordioso e Generoso. De fato, um dos nomes de D'us mais usado no Talmud é Rachmaná - "O Misericordioso", então o homem também deve ser misericordioso, generoso e bondoso com todos. Portanto, afirmam nossos sábios, assim "como D'us veste os que não possuem roupa... visita os doentes...consola os enlutados... cuida dos mortos... alegra os noivos e noivas..., também tu deves assim proceder".
Os rabinos do Talmud consideravam a bondade uma das três marcas singulares do judeu. Guemilut chassadim é tão fundamental no judaísmo que, se alguém não pratica atos de bondade, deve-se questionar se realmente faz parte da Nação Judaica, pois, está escrito que "Israel, o povo sagrado, é caracterizado por três qualidades: a modéstia, a misericórdia e a prática da bondade" (Yevamot, 79a). O Talmud vai além e afirma que alguém que só estuda Torá, mas não pratica a bondade, repudia a D'us e não adquire nem mesmo o mérito do estudo. Pois, como ensinou Rabi Akiva, o maior mestre do Talmud, o mandamento "Amarás a teu semelhante como a ti mesmo" (Levítico 19:18) é o princípio fundamental da Torá.
Ser um ish chessed (Homem de Bondade)
Uma das principais metas do judaísmo é ajudar o homem a se aperfeiçoar espiritualmente para que ele se torne um ish chessed, um homem de bondade. Não surpreende, portanto, que o primeiro patriarca judeu, Avraham, personifique a Sefirá, o atributo Divino, de chessed - benevolência, generosidade e amor infinito.
Bondoso e altruísta, Avraham estava sempre preocupado com o bem-estar dos outros, respeitando e amando todos os seres e cercando-os de atos de bondade e generosidade.
Hospitaleiro, o primeiro judeu usou sua riqueza para acomodar os viajantes; as portas de sua tenda estavam sempre abertas a todos aqueles que por lá passavam. Qualquer um, anjo, mendigo ou mesmo idólatra, podia entrar em seu lar e comer à sua mesa, ou descansar em uma de suas tendas. Avraham também compartilhava com outros sua sabedoria e seu conhecimento. Para salvar alguém do sofrimento e da morte, não hesitava em tomar a medida necessária, mesmo arriscando a própria vida. Avraham é o paradigma do judeu ideal - bondoso com D'us e com os homens; o Talmud ensina que qualquer pessoa que tenha compaixão por outras certamente descende do patriarca.
Na Cabalá, a Sefirá de Chessed, simbolizada por Avraham, representa a bondade, o altruísmo, o compartilhar, o dar incondicional, o amor. É o fluxo de energia que nos abre para o mundo e nos leva a estender a mão ao outro. Em hebraico, a palavra que significa "amar" é ohev e advém de hav, "dar". O verdadeiro amor, ensina o judaísmo, é constituído por atos de doação e bondade.
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